

PROJETO
Liêdo - Fotógrafo do Povo
O projeto Liêdo – Fotógrafo do Povo realizou a catalogação e a digitalização das fotografias do pesquisador da cultura popular Liêdo Maranhão (1925 - 2014). Sua produção fotográfica apresenta um retrato social e cultural da gente do Nordeste. O conjunto dessas imagens, que soma 2.381 fotografias realizadas sobretudo na década de 1970, revelando os tipos populares da Praça do Mercado de São José, integra o valioso acervo do "Escriba do povo" que dedicou mais de 40 anos às suas investigações.
Este website apresenta um significativo recorte desse acervo, hoje reunido na Casa da Memória Popular, além de informações sobre a coleção fotográfica e o trabalho de salvaguarda desenvolvido com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco, em 2015.
Liêdo Maranhão nasceu no bairro de São José, no Recife, em 1925. No entorno da Praça Dom Vital, a Praça do Mercado de São José, o “moleque”, como ele dizia, cresce e se apaixona pela cultura do povo. Ainda criança, conhece o cangaceiro Antônio Silvino, quando acompanhava o pai em visitas à Casa de Detenção do Recife, hoje Casa da Cultura. Parte dali o seu interesse pelo Cangaço que depois o faria percorrer o Nordeste em busca das suas histórias e dos folhetos da literatura de cordel.

Liêdo Maranhão na Casa da Memória Popular (foto: Raul Kawamura)
Nos anos 1950’s, Liêdo viaja para a Europa para realizar o sonho de conhecer Paris. Consegue uma bolsa de estudos para aprimorar seus conhecimentos em odontologia mas logo abandona o curso para perambular pelo velho continente. São três anos onde conheceu onze países e diversas culturas, viajando de carona, lavando pratos e descarregando caminhões. Na Espanha, na cidade de Granada, entra em contato com o trabalho do escritor Washington Irving, que trouxe uma influência decisiva na sua produção como pesquisador. Estudioso do Islamismo, Irving residiu no Palácio de Alhambra no início do século XIX, onde pode aprofundar suas pesquisas. O escritor estadunidense passou a conviver com os habitantes do palácio que estava degradado e entregue a pessoas marginalizadas. Foram elas que lhe trouxeram as histórias que vão inspirar o seu livro Contos de Alhambra. A obra inspirou o processo de restauro e revitalização do palácio e do seu entorno. De volta ao Recife, Liêdo se sentia mais brasileiro. Ele se reencontra com o povo nos arredores do Mercado de São José.


Liêdo Maranhão em viagem pela Europa, em Pisa e tocando seu inseparável pandeiro em Madrid. (foto: ator não identificado)
“Quando você volta, fica mais brasileiro. Vi que estava tudo por fazer ...
Eu cheguei na Praça do Mercado e comecei a ouvir aquelas histórias.
Pensei: aqui é a minha Alhambra.”
(Liêdo Maranhão, 2013)
Dentista de formação, Liêdo Maranhão fechou seu consultório e abandonou a carreira profissional para se dedicar ao ofício que o tornou uma autoridade como pesquisador da cultura popular. Também dedicou a sua atenção à música, à escultura, à fotografia, ao cinema, escreveu sobre modas e modos, gastronomia, cordel, entre outros assuntos, de forma insaciável. Vai buscar na Praça do Mercado de São José a matéria-prima do seu trabalho: o povo. Ali é a sua Alhambra, o seu laboratório, seu campo de pesquisa.
Nas décadas de 1960 e 1970, a Praça Dom Vital era o grande palco da cultura popular do Estado, do Nordeste. Para lá convergiam poetas, cantadores, cordelistas, emboladores, artistas mambembes, mágicos, ventríloquos, os mais diversos tipos populares, camelôs, prostitutas, personagens que se conheciam pelos nomes: João Ciência, Bacurau, Maturi, Fanzendeiro, entre tantos outros. Liêdo ali conviveu, “com chuva ou sem chuva”, por 10 anos, em contato direto com a produção do povão, personagens daquele teatro ao ar livre.
Foram mais de 40 anos dedicados a registrar a memória da cultura popular nordestina, 30 mil itens das mais diversas categorias recolhidos, mais de 4.000 mil páginas em 31 diários, dos quais saíram 13 livros que mostram um retrato fiel do homem simples do povo. Todo esse valioso acervo, formado por folhetos de cordel – uma das maiores coleções do Brasil com 17 mil títulos, livros raros, xilogravuras, cartas, cartões postais, cartazes, fotografias, almanaques, gibis, álbuns de fotografias, manuais de medicina popular, propagandas em geral, santinhos fúnebres, panfletos políticos, pinturas, esculturas, etc, garimpados pelos mercados e sebos país à fora, está reunido na Casa da Memória Popular, idealizada pelo próprio pesquisador com o objetivo de guardar e preservar para as próximas gerações o legado de 4 décadas de investigações.
“A minha preocupação é levar isso tudo ao povo.
Devolver ao povo sua cultura. Eu quero fazer exposições
em lugares a que o povo tenha acesso.”
(Liêdo Maranhão, 2007)
Respeitado internacionalmente por seu trabalho literário, o “Escriba do povo”, como se auto intitulava, é também o autor de uma documentação fotográfica primorosa que retrata, com a mesma fidelidade e riqueza de detalhes da sua produção escrita, os personagens presentes em sua obra.
“Minhas fotografias são todas populares, do povo (...)
“Vendo o personagem, você sente naquilo que ele tá contando
(que) é autêntico. Pela maneira, jeito dele, tudo.”
(Liêdo Maranhão, 2013)
A produção fotográfica de Liêdo Maranhão é do mesmo período em que frequentava diariamente o Mercado de São José e os seus arredores e se encontrava em sua grande maioria inédita. São 2.381 fotografias, a maioria em preto e branco. Hoje, todas essas imagens, salvaguardadas a partir de reproduções em formato digital e preservados os arquivos analógicos originais, estão disponíveis ao público interessado no tema.

Lâmina com cópias das fotografias de Liêdo Maranhão, montada pelo próprio, mostrando tipos populares da Praça do Mercado de São José (lâmina P2)
“Eu senti logo a necessidade de fotografar...
Eu sempre gostei muito da figura humana ...
Foi o que me levou às fotos, foi a figura humana.”
(Liêdo Maranhão, 2013)
O pesquisador, além dos seus diários de campo, também se fez acompanhar de uma câmera fotográfica. Apesar de não se considerar fotógrafo e ter horror aos equipamentos, confidenciava, sentiu desde o início a necessidade do registro fotográfico enquanto ferramenta para suas investigações. Costumava dizer que “virou fotógrafo” por conta da pesquisa, nunca tendo se interessado, contudo, por técnicas ou manuais. Para tanto, fazia uso de uma pequena e discreta câmera fotográfica, a mítica Olympus Pen. Um equipamento semi-automático, de excelente qualidade ótica, half-frame (meio-quadro) que utiliza metade do fotograma padrão, possibilitando duplicar a quantidade de fotos por filme e tornando-se uma opção bastante prática e econômica à época.

Lâmina com cópias das fotografias de Liêdo Maranhão, montada pelo próprio, mostrando as "Mulheres da Praça" do Mercado de São José (lâmina M1)
“... E eu que não sou fotógrafo, e tenho horror a máquina — qualquer tipo
de máquina eu tenho horror — tem uma coisa boa:
ela (a Olympus Pen) é fácil de usar... É uma máquina muito simples...
Fácil de esconder do pessoal” (Liêdo Maranhão, 2013)
As fotografias de Liêdo Maranhão, como toda a sua obra, trazem uma narrativa rica em detalhes, constituindo uma importante fonte de pesquisa para a análise e o entendimento do universo da cultura popular.


ACERVO





FICHA TÉCNICA
Acervo
LIÊDO MARANHÃO
CASA DA MEMÓRIA POPULAR
Idealização
JOSIVAN RODRIGUES
Produção Executiva
TICIANO ARRAES
Assistente de produção
MAIARA LIRA
Inventário e catalogação
SANDRO VASCONCELOS
Assistente de pesquisa
JADSON BARROS
ROMAN MARANHÃO
Reprodução fotográfica
JOSIVAN RODRIGUES
Registro fotográfico das atividades
JOSIVAN RODRIGUES (exceto as indicadas)
Tratamento das imagens
JOSIVAN RODRIGUES
RAUL KAWAMURA (site)
Textos
JOSIVAN RODRIGUES
Design gráfico
MATEUS BARROS
Webdesign
JOSIVAN RODRIGUES














